Saturday, February 20, 2010

Falando sério

E se eu quiser falar sério? Se eu quiser falar bonito... de novo. Consigo?

Eu costumava escrever, e bem até. Perdi a poesia, perdi a prosa, perdi o doce. Escrevo agora como um garoto displicente e inconsequente.

Pior, como um garoto que quer provar alguma coisa ao mundo.

Que pensa que precisa provar alguma coisa.

Wednesday, December 30, 2009

2009

Dezembro de 2008 foi muito pesado para mim. Deus, parecia que não iria acabar nunca! Tanta coisa aconteceu, tantos sentimentos novos, estranhos, confusos, muito trabalho, pouco sono, cansaço físico e mental, muita coisa nova pra assimilar... Foi assim que comecei 2009: olhando pro céu, pedindo pra Deus desembolar a minha rabiola.

O ano começou. Em janeiro, pensando em tudo que havia acontecido, escrevi atrás de um postal para mim mesma a seguinte reflexão:
Descobri que o mundo nem sempre é talvez.
Não para tudo.
Não toda hora.
Tem vezes, e coisas.
Que a gente bem tem vontade.
Ou não.
Agora, em dezembro de 2009, li novamente esse postal e entendi que essa reflexão acabou me guiando por todo o ano. Comecei a descobrir e a encarar todas as coisas que eu bem tinha vontade, tentando afastas o "talvez" sempre que possível. Não dava mais pra aguentar frustrações, como uma prisão que eu imponho a mim mesma, a troco do quê? Para levar uma vida mais simples? Quem disse que tudo deve ser simples?

Foi difícil descobrir em mim certas coisas que eu não esperava... e assumi-las. Foi difícil tentar me concentrar em algo quando toda minha mente e corpo queria se jogar para outra coisa. Foi difícil ter que passar por situações pelas quais eu já tinha passado, guardadas as devidas proporções. Foi difícil mas eu sei que elas vão me ensinar alguma coisa, eu quero que ensinem algo, para que nada seja em vão.

2009 foi heavy-metal-thunder, mas de alguma maneira tenho mantido a sanidade, e espero continuar assim. Preciso matar a ansiedade, pois nada ainda está resolvido, mas preciso continuar andando. Acho que nunca estive tão perdida, ou consciente disso. Mesmo assim, viver um dia após o outro não faz mal, e, acima de tudo, me deu uma visão completamente diferente da vida: há altos e baixos, nenhuma situação é permanente (nem o alto e nem o baixo), tudo pode acontecer, e com tudo que acontece, a gente precisa saber lidar da melhor maneira. Saber disso tem me ajudado. O desespero é que nunca ajuda.

E no meio de tudo isso, me diverti tanto... tive tantas provas de amizade. Ri, realizei coisas novas. É isso. Vivi.

Depois desse ano, mesmo não tendo nada concreto no horizonte, eu tenho esperanças. Porque ela continua, independente da minha vontade. Então, vamos ver... eu só quero respirar fundo no fim do dia e ter paz comigo e com Deus.

Listen.


You should think of a lesson
As a weapon of love
And teach your brother
Teach your sister
Think of a lesson as a weapon in love

There's nothing you can do
But let time tick
Stay positive and show stiff lip
Nothing you can do
But let time tick away

Sunday, December 13, 2009

Águas cristalinas

Eram sete da manhã quando ele fez os últimos preparos.

Não havia razão para ficar mais tempo na cama. A noite anterior não tinha sido boa e seus sonhos foram novamente povoados pelos pesadelos que, desde o último mês, ele conhecia bem.

Colocou tudo que tinha em cima da cama. Selecionou algumas roupas, não precisava de todas. Além das roupas, colocou na mochila uma bússola e um binóculos. Todas as lembranças que lhe remetiam a outros tempos, ele deixou no armário. "Era hora de deixar o passado para trás", pensou.

Enquanto caminhava até a enseada, inúmeras dúvidas lhe apareceram. Seria essa uma vigem somente de ida? Ainda precisavem dele por aqui? Ele encontraria o que procurava para além do horizonte?

Ninguém poderia responder aquelas perguntas. O risco era inerente à sua escolha...E foi aí que ele lembrou de suas próprias lágrimas. Lembrou da fonte de seus pesadelos, da tristeza toda. Se ainda precisavam dele ali, que o procurassem então, pois não era o que parecia. E mesmo não encontrando o que ele procurava, a sua busca, por si só, já o preenchia com algum significado.

Quando percebeu que encarar o risco de zarpar sem rumo era ainda melhor que o risco de estar ancorado naquelas águas escuras, ele teve certeza que a viagem seria só de ida.

Chegando na enseada, ele se deu conta que não se despediu de ninguém. Então ele olhou para o céu e pensou: "que eles me perdoem, pois eu não vou voltar".

Finalmente entrou na embarcação. Havia um homem posicionado em frente ao leme que parecia ser o capitão. O homem tinha cabelos brancos e longos, olhos azuis, barba por fazer e usava um enorme cordão com uma cruz dourada pendurada.

Ele saudou o capitão, que retribuiu gesticulando com a cabeça. Perguntou sobre os outros tripulantes e se supreendeu quando o capitão respondeu: "Não há outros. Esse é o seu barco, só vc pode navegar nele". Com estranheza, ele perguntou "mas porque só eu?".

- Você não é o homem dos pesadelos? Você não é aquele que se perdeu nas águas escuras e profundas da solidão? Não é você quem precisa de um recomeço?- Perguntou o capitão.
- Sim, mas...
- Então esse é o seu barco! Vou te levar de volta paras as águas cristalinas...Vou te levar para a verdade novamente. Vou te levar para um lugar onde você possa dormir tranquilo.
- E que lugar é esse?
- Não, essa não é a hora de perguntar isso. O lugar será revelado quando estivermos perto de encontrá-lo.

De fato, não havia um lugar específico para seguir, apenas não havia mais razões para ficar...Se alguém lhe perguntasse para onde queria ir, simplemente não haveria resposta e o capitão, por razões ocultas, já sabia disso. E isso já era o suficiente para zarpar.

Ele se posicionou ao lado do capitão, que lhe perguntou "Podemos ir?". E ele respondeu: "apenas me tire daqui".

O barco partiu.

Sunday, November 22, 2009

Paulocoelhando

Desculpa aí quem gosta, mas Paulo Coelho gera milhões apenas repassando pérolas de sabedoria dantes presentes na obra de Confúcio, na Bíblia, no Corão, you name it... É claro que elas nos tocam porque são verdadeiras, mas, como tudo nada vida, só são absorvidas, aprendidas e vividas naqueles momentos decisivos que acontecem na vida de qualquer um. Não sei se alguém já teve a experiência de mudar de vida completamente porque leu um livro do Paulo Coelho e autoajudas afins. Eu tô aprendendo na marra mesmo. A vida é bem eficiente em nos ensinar, e a gente nem precisa ler em livros coisas como...

1) Nada dura para sempre
Por mais que a gente pense que a situação, boa ou ruim, é permanente, não é. A fase difícil que nunca se resolve, pode ter uma resolução completamente surpreendente, previsível, boa, ruim ou até nem vamos perceber, mas a coisa sempre vai evoluir pra outra. É só parar pra escutar a trajetória de vida de outra pessoa, se é que a nossa própria não seja o suficiente para darmos o devido crédito. Acontecem um milhão de coisas, altos e baixos, reviravoltas... a gente só tem que tocar o barco e esperar, temos que...

2) Dar tempo ao tempo
Ansiedade e nervosismo são tremendos inimigos. Acabam nos sabotando porque a gente quer ver a coisa acontecer, e fazer acontecer. Acontece que é aquilo, nem sempre a gente tem o que quer, muitas vezes nossos desejos dependem de outras circunstâncias - e até de outras pessoas -, e aí a coisa complica. No fim, a gente faz o que pode. Contra a ansiedade e confusão, só nos resta...

3) Respirar
O conselho mais óbvio, porém tão eficiente. Respirar profundamente acalma os pensamentos, tira as nuvens que nos embaçam, colocam o corpo em ordem quando tudo gira. A gente toma cada uma que perde o rumo... não sei dizer com precisão os efeitos físicos de um bom exercício de respiração, só sei que funciona. Nos momentos mais angustiantes, podem salvar aquele fiapinho de sanidade que nos resta e fazer com que a gente...

4) Pare de pensar demais
Pare de pensar que tudo acontece só com você. Pare de pensar que o mundo tá conspirando contra. Pare de pensar que tudo revolve à sua volta e você é o umbigo do universo. Pare de fantasiar, coisas boas e coisas ruins, por que se as boas não acontecerem, só vão gerar frustração. E se as ruins acontecerem ou não, só de pensar nelas já derruba qualquer um. Pensar demais pode paralisar, impedir a ação, prender a pessoa no mundo das fantasias. É quase impossível desligar isso, mas é preciso...

5) Confiar
Life goes on. Keep walking.

Leu? Aprendeu? Claro que não. Como eu, você só vai aprender vivendo, navegando e levando as ondas no casco...

Saturday, November 21, 2009

O dia de amanhã

Finalmente, chegou o dia.

Eram 07:32 quando eu olhei o despertador. Não me levantei de primeira, pois raramente levanto. Fiquei na cama até 07:54.

Me dirigi ao banheiro como é de praxe. Sem olhar no espelho, abri a pia e enchi as mãos de água. Minhas mãos não estavam trêmulas como eu achava que estariam. Joguei a água no rosto e finalmente encarei o espelho.

Apareceu um homem com o rosto coberto de água. As olheiras eram nítidas e desde muito tempo estavam ali. O cabelo era desarrumado como de quem acabou de acordar, mas os olhos...Havia algo de errado com aqueles olhos castanhos. Mas o que era? Estavam mais apagados? Estavam menos corajosos? Bom, estavam menos interessantes agora. Tristes, eu diria.

Abri o box do banheiro. Escolhi água fria. Costumo pensar que tomar banho frio é um tipo de penitência ou castigo. Mas, além disso eu sabia que quando tomo um banho frio não consigo pensar em nada, apenas na dor momentânea da água fria batendo na minha pele quente de quem acabou de acordar. Demorei um pouco mais nesse banho. Ficar sem pensar em nada era melhor embriaguez...

Fechei o botão da calça, coloquei o cinto. Já sentado coloco o sapato do pé direito e depois o do pé esquerdo. Faltava amarrar os cadaços. Eu me demorei um pouco, fiquei pensando para onde eu iria, se o dia no escritório seria bom hoje. Como estaria meu nível de concentração, afinal? Entre pensamentos e lembranças, notei que a partir de hoje o meu caminhar seria solitário.

Lembrei da frase do Alberto Goldim que tinha lido no dia 15 de novembro. Ele falava sobre relacionamento e da importância de alinhar os interesses e não fazer jogos ou coisas do tipo. Até que ele termina a resenha com a seguinte frase:

Quando conseguem se encontrar em paz, ambos ganham um fantástico prêmio: o direito de lutar juntos para combater a solidão universal, habitando um sólido castelo, luxuosamente decorado com seus próprios projetos e ilusões.

Projetos...sonhos...ilusões. Tudo isso eu tinha e nada disso era meu.

Estava na hora de combater a solidão universal novamente. Sozinho dessa vez, não havia dúvida quanto a isso. Era assustador...

Escolhi a camisa branca. Fechava os botões e nada daquilo parecia fazer sentido. Coloquei a gravata cinza, pois era ela que melhor expressava o meu humor ou a ausência dele. Coloquei o paletó preto, por fim. "Deveria ser como uma armadura", pensei.

Peguei o ônibus. Sem ouvir música, dessa vez. Minha intuição dizia que música seria pior...

Desci no ponto, no ponto de sempre. Do outro lado da calçada vislumbrei a construção. Era o prédio do relógio gigante. Não era só um prédio, era um santuário também. O templo do Deus do Tempo, como eu sempre pensei.

Antes de entrar, fiz uma oração ao Deus do Tempo:

Mestre, você sabe quem é o discípulo que vos fala agora. Tu sabes que sempre segui com disciplina e coragem todos os seus ensinamentos. Passei por seus inúmeros desafios, suportei teus anocronismos e passei pelos jejuns que me impuseste com esperança em meu coração. Aprendi a ter paciência contigo e cresci debaixo do teu manto esperando sempre as surpresas que vinham com a tua chegada. Poucas vezes te pedi alguma coisa, mas hoje pedirei com toda humildade.
Me cura, Mestre. Use os poderes do Tempo para curar as feridas desse meu coração. Cuida de mim. Não deixe que as horas, os dias ou os meses me torturem. Faça com que tudo passe, com que meu espírito evolua. Me traz a cura, Mestre. Me exalte e me traga de volta para as batalhas com os poderes do Tempo.
Que assim seja.


Logo em seguida, o sinal de trânstio abriu e eu atravessei a calçada. Entrei no templo com as esperanças de que fui ouvido.

Era mais um dia de trabalho e as coisas ainda não faziam o menor sentido.

Sunday, July 26, 2009

Não alimente os animais

Alguns dias de felicidade não macaqueiam as dúvidas e escolhas a fazer da vida. Talvez só as deixem no canto, barateando por algum momento. Mas ainda estão lá. Algumas são elefantescas demais para serem escondidas debaixo do tapete, algumas têm importância leonina, assustam-nos com seus rugidos, urgem uma posição. A vida cisma em ser camaleônica, as certezas de um dia não são mais certas no outro. Enquanto não tenho a sabedoria de uma coruja, ainda deixo a dúvida invadir minha casa, sorrateira como uma cobra. Quando abro os olhos, está lá, essa presença silenciosa e incômoda. Cedo ou tarde, ela poderá dar o seu bote.

Essas pequenas e determinadas formiguinhas invadem meu cérebro, atrás de alguma guloseima para roer. Displicente com a ideia de estar formando uma colônia cada vez mais profunda, acho-me a alimentar os bichinhos. Logo o meio ambiente adequado atrairá outros. Está aí um ecossistema favorável para o crescimento e desenvolvimento de qualquer caraminhola! Virão, dos vegetarianos aos carnívoros, a pedir meu sustento, enquanto desenho os pastos intermináveis e tento manter o equilibrio, enquanto os predadores atacam suas presas seguindo o ronco interior.

Agora isso cansa, não deveria ter começado... eles estão mal acostumados. Não posso mais ficar como um bicho-preguiça: as onças estão à solta. Devo mandar a seca, deixá-los morrer, migrar... sou quem preciso sobreviver.

Para ouvir: Talking Bird - Death Cab For Cutie
"The longer you think, the less you know what to do..."

Saturday, July 11, 2009

Liberdade de expressão para os bons

Liberdade de expressão, essa coisa esquisita... enfim, escuta-se muita sandice nesse mundo. Besteira é o que o povo adora falar, difícil é quando a pessoa fala besteira acreditando que não é. Aí é duro.

Eu não costumo falar muito em público. Eu prefiro ouvir, por medo de falar uma besteira muito grande. Isso me atrapalha um pouco, quando eu perco oportunidades de dar algum exemplo ou fazer uma pergunta. Eu prefiro pensar um pouco mais e perguntar pra outra pessoa depois, se for algo que eu realmente não consegui descobrir sozinha. Depende do momento também, às vezes cismo em fazer alguma piada, mas só quando eu tenho certeza que todos vão rir.

Não falar muito também me atrapalha quando eu acabo não defendendo minhas ideias em público. Eta pós-moderninade que me faz relativizar. Mas depois de ver tanta gente defendendo tanta sandice, acho que eu relativizo demais. Oras, se tanta gente pode dizer sandice, por que eu não posso dizer sandice também? Por que vai que não é sandice?
Deveria ser um fato comprovado pela ciência que a maioria das pessoas não submetem suas palavras ao cérebro antes de dizê-las. É triste constatar que há muita, mas muita gente sem-noção nesse mundo.
Formadores de opinião? O que é isso hoje em dia? Representantes da boas e velhas instituições, como Igreja e Estado. Fora o exemplo do pastor já citado, o que dizer das frases do nosso presidente Lula? E tem o maior nível de popularidade do pais, vai saber. Então, fora isso? Quem tem o microfone pra uma mega audiência todo domingo? Quem está entrando nos lares de segunda a sábado nos lares brasileiros no horário nobre (você conhece algum indiano morando no Rio? É, nem eu.)? Qual é o escritor brasileiro com maior reconhecimento nacional e internacional, vende milhões de livros em que copia os mesmos ensinamentos mais clichês de Confúcio como se fossem deles? Qual ex-BBB está todo dia no maior portal da internet?
Por que o microfone tem que cair na mão deles? Por que ganham tanto espaço? Por que tanta gente diz "amém"? Mistério...
Todo mundo fala muita coisa. Todo mundo se vê no direito de dar uma opinião. Todo mundo acha que tem alguma coisa a dizer. É muita informação. Qual foi a última que você realmente guardou por que achou que valia a pena?

A moral da história, amizade, é essa: "O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." Martin Luther King, que era pastor...

p.s.: se é pra ficar encucado com alguma coisa, fique encucado com o fato de muitos pastores falarem sandice nos cultos, mas os milagres continuarem acontecendo. Por que sim, acontecem. Já aprendi que se é parte da promessa de Deus que haja cura ou libertação, vai acontecer, independente se o pastor for ladrão, burro e falar errado. Por que não é ele que realmente faz os milagres, é? Só que aí esses pastores ganham seguidores. Por que um pastor tem que ter seguidores? Ok, voltando à analogia primária, as ovelhas sim, seguem o pastor. Mas o pastor também é responsável por elas, por guiá-las por pastos bons e águas limpas, por tratar-lhes as feridas, para protegê-las dos lobos... Enfim, pastores são humanos e passíveis de erros como suas ovelhas. O que nós precisamos ter é discernimento pra submetê-los e a nós mesmos aos ensinamentos do Chefe. É isso que falta...