Monday, December 29, 2008

Re: Medo de quê?

Eu não sei quando comecei a empregar a palavra "MEDO" com absurda freqüencia em meu vocabulário. Ao ponto de virar comentário normal pra qualquer tipo de atrocidade, problema, fato caótico que invariavelmente ocorre em nossa vida louca cotidiana. "Que medo".

Ele disse: "você usa essa palavra demais".

Dê-me uns minutos que confesso meu vários medos. O da morte é de praxe, nem entro no mérito do pós-morte, fico no como ela será. Vou senti-la vindo? Serei eu vítima de um assassino sádico, que vai me cortar em pedacinhos antes (tipo o Palhaço Assassino que o Sufjan canta com uma beleza que dói)? Quem sabe uma bala perdida, ou uma bem dirigida? Será que sofrerei com um câncer, ficar careca, fraca, com mil tubos saindo e entrando pelo meu corpo? Meu coração vai ter uma síncope de melancolia e frustração acumulada? Tenho medo da gripe do frango, de ser abusada sexualmente, de desastres naturais, da bomba atômica, de bater com o carro, do futuro do jornalismo e de intimidade e compromisso com o sexo oposto, apesar de ele muito me atrair.

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

No entanto, ainda acordo de manhã, ainda saio de casa. A hora passa, a vida acontece, eu lembro de um fato, eu abro o jornal, eu canto uma canção e saio de casa. Se a gente não relevasse tudo isso sem sentir, não dava pra continuar vivendo.

A boca fala do que o coração está cheio. Não há morte em meu coração. Há uma meia vida tentando se tornar inteira. Mas aparentemente tenho muito medo de umas coisas normais para todos, mas não tão normais para mim. E fato, a gente teme o que é novo.

Eles dizem: "você fecha a porta, você não deixa ninguém entrar".

Eu tenho medo de me machucar? Não sei muito bem, pois costumo me machucar sozinha. É só eu começar a sonhar demais, sem ver nenhuma concretização. A partir da realidade, eu invento meu alvo, crio meus motivos, construo meu amor, vem a frustração. E dói. Tanto fiz isso que, quando acontece de verdade, ainda penso se não fui eu que inventei a dor de novo, sem conseguir delegar os erros, por mais que não tenha os cometido todos.

Aos poucos, em meus pequenos passos, eu descubro o que se passa cá dentro. Pensas que não penso muita coisa que eu penso. Descobri sentimentos que eu agora preciso, achei-me pedindo os beijos que eu tenho por direito, e os carinhos que eu sei que eu mereço. Sem receber.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Tenho medo de não ser feliz. Mas já me acostumei a não ser feliz. Se o mal-acompanhada me faz infeliz, escolho o só, que somente me faz um pouco menos infeliz. Eu penso: "ele não existe, ele simplesmente não existe".

Então, da solidão eu não sei se tenho medo. Já estou me acostumando com a idéia. Eu estou me resignando a ser a "Velha dos Gatos" do bairro, aquela senhora de idade, solteirona, dona de uns 15 gatos que só sai de casa pra comprar ração. Eu até cheguei a dizer isso por aí. Do jeito que eu sou acomodada, poderia me acostumar com a solidão. Isso se tudo continuar me dando motivo pra repetir o mantra: "ele não existe, ele não existe".

Isso tudo é o que eu acho hoje, do alto da minha imaturidade. Tenho medo de estar certa.

Ela disse: "É como comprar um sapato caríssimo, e branco, muito branco. Chegando em casa, você calça e diz 'eu nunca vou usar esse sapato', com medo de sujar, danificar. Mas então, por que comprou?"

Acho que não tenho mais medo de me machucar, tenho raiva por me machucar de novo. Mais uma vez. Novamente. E ainda estou no começo? É, eu apenas comecei...

A cada tentativa, dou mais um passo à frente, e conforme avanço, ainda vejo meu horizonte vazio.

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Eu quero a voz que me confrotava, mas que se foi... eu a quero novamente. Outro medo, será que um dia ela volta? Aquela voz que um dia me perguntou: "De que tanto você tem medo? Pra que temer? É tão... normal".

Moinhos de vento

As coisas são o que são, eu aprendi. Às vezes nós colocamos uma maquiagem aqui ou ali – mesmo porque, essa pode ser a única alternativa –, mas não podemos mudar a natureza das coisas.

Outra lição: se as coisas são o que são não há que se falar em bom ou ruim. Que alívio, não acha?!

Bom, eu acho...

Se você quer me seguir, não é seguro
Você não quer me trancar, num quarto escuro
Às vezes parece até, que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só

Ninguém nunca me perguntou quais são meus maiores medos. Já me perguntaram se eu queria o filé mignon mal passado, no ponto ou bem passado. Já perguntaram se eu sou sexualmente bem dotado. Já perguntaram sobre os meus maiores sonhos, mas sobre os meus medos: nada! As pessoas têm medo de saber quais são os medos das outras pessoas?

Que coisa...

Me vem à mente a canção de Renato Russo (Daniel na Cova dos Leões) em que ele diz que “o teu medo de ter medo de ter medo não faz da minha força confusão”. Agora, isso me parece ainda mais profundo. E estranho, claro. Sempre um tanto quanto estranho. Toda essa prosa, se se pensar bem, é estranhíssima também.

Anota aí: SOLIDÃO.

Não sei se a questão é estar em ambiente em que a única viva alma sou eu. Acho que se trata de se sentir só. Abandonado, jogado... Just alone.

Ainda Lenine (e porque não?):

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Como se consegue vencer todos os medos? Digo, os meus medos, os seus, os nossos. A soma de todos os medos resulta em um monstro tão medonho que apenas de olhar te fere a retina?!

Quem sabe?

Eu, tal como o personagem de Cervantes, insisto em lutar contra moinhos de vento acreditando, inocentemente, que são gigantes sedentos por me destruir...

E ouça só isso. De vez em quando alguma alma caridosa bate nos meus ombros e diz que “não são gigantes, mas apenas moinhos de vento”! E, ainda assim (pasmem!), continuo lutando miseravelmente.

Ria, agora. Ria, pois se eu fosse você, riria facilmente de mim. Veja que coisa: o rapaz constrói uma prosa em metáforas que se afundam umas nas outras para falar sobre um medo que tem MEDO de exprimir.

Mas não se engane, isso não passa de um truque. Uma mágica para o sono vir... Mas não só isso! Também me parece ser a única maneira de me deitar sem estar atormentado.

Vou apagar a luz, agora. Vou dormir e torcer para não sonhar com nada.

Mas, se Morfeu forçar todas as barras, eu espero sonhar com novos horizontes. Quero ver um campo onde nasce um esplendor de novas possibilidades.

Quero estar num lugar de amores possíveis. Um lugar onde amores se concretizam. Basta gostar de alguém e esse alguém gostar também.

Um lugar onde moinhos de vento sejam só moinhos de vento...

Não há prazos, não há obrigações. Os amores são estranhamente concretos, pois, por algum capricho, os amantes se completam e se bastam...

Então vou me despedir dizendo “nos veremos lá!” – não é?!