Wednesday, December 30, 2009

2009

Dezembro de 2008 foi muito pesado para mim. Deus, parecia que não iria acabar nunca! Tanta coisa aconteceu, tantos sentimentos novos, estranhos, confusos, muito trabalho, pouco sono, cansaço físico e mental, muita coisa nova pra assimilar... Foi assim que comecei 2009: olhando pro céu, pedindo pra Deus desembolar a minha rabiola.

O ano começou. Em janeiro, pensando em tudo que havia acontecido, escrevi atrás de um postal para mim mesma a seguinte reflexão:
Descobri que o mundo nem sempre é talvez.
Não para tudo.
Não toda hora.
Tem vezes, e coisas.
Que a gente bem tem vontade.
Ou não.
Agora, em dezembro de 2009, li novamente esse postal e entendi que essa reflexão acabou me guiando por todo o ano. Comecei a descobrir e a encarar todas as coisas que eu bem tinha vontade, tentando afastas o "talvez" sempre que possível. Não dava mais pra aguentar frustrações, como uma prisão que eu imponho a mim mesma, a troco do quê? Para levar uma vida mais simples? Quem disse que tudo deve ser simples?

Foi difícil descobrir em mim certas coisas que eu não esperava... e assumi-las. Foi difícil tentar me concentrar em algo quando toda minha mente e corpo queria se jogar para outra coisa. Foi difícil ter que passar por situações pelas quais eu já tinha passado, guardadas as devidas proporções. Foi difícil mas eu sei que elas vão me ensinar alguma coisa, eu quero que ensinem algo, para que nada seja em vão.

2009 foi heavy-metal-thunder, mas de alguma maneira tenho mantido a sanidade, e espero continuar assim. Preciso matar a ansiedade, pois nada ainda está resolvido, mas preciso continuar andando. Acho que nunca estive tão perdida, ou consciente disso. Mesmo assim, viver um dia após o outro não faz mal, e, acima de tudo, me deu uma visão completamente diferente da vida: há altos e baixos, nenhuma situação é permanente (nem o alto e nem o baixo), tudo pode acontecer, e com tudo que acontece, a gente precisa saber lidar da melhor maneira. Saber disso tem me ajudado. O desespero é que nunca ajuda.

E no meio de tudo isso, me diverti tanto... tive tantas provas de amizade. Ri, realizei coisas novas. É isso. Vivi.

Depois desse ano, mesmo não tendo nada concreto no horizonte, eu tenho esperanças. Porque ela continua, independente da minha vontade. Então, vamos ver... eu só quero respirar fundo no fim do dia e ter paz comigo e com Deus.

Listen.


You should think of a lesson
As a weapon of love
And teach your brother
Teach your sister
Think of a lesson as a weapon in love

There's nothing you can do
But let time tick
Stay positive and show stiff lip
Nothing you can do
But let time tick away

Sunday, December 13, 2009

Águas cristalinas

Eram sete da manhã quando ele fez os últimos preparos.

Não havia razão para ficar mais tempo na cama. A noite anterior não tinha sido boa e seus sonhos foram novamente povoados pelos pesadelos que, desde o último mês, ele conhecia bem.

Colocou tudo que tinha em cima da cama. Selecionou algumas roupas, não precisava de todas. Além das roupas, colocou na mochila uma bússola e um binóculos. Todas as lembranças que lhe remetiam a outros tempos, ele deixou no armário. "Era hora de deixar o passado para trás", pensou.

Enquanto caminhava até a enseada, inúmeras dúvidas lhe apareceram. Seria essa uma vigem somente de ida? Ainda precisavem dele por aqui? Ele encontraria o que procurava para além do horizonte?

Ninguém poderia responder aquelas perguntas. O risco era inerente à sua escolha...E foi aí que ele lembrou de suas próprias lágrimas. Lembrou da fonte de seus pesadelos, da tristeza toda. Se ainda precisavam dele ali, que o procurassem então, pois não era o que parecia. E mesmo não encontrando o que ele procurava, a sua busca, por si só, já o preenchia com algum significado.

Quando percebeu que encarar o risco de zarpar sem rumo era ainda melhor que o risco de estar ancorado naquelas águas escuras, ele teve certeza que a viagem seria só de ida.

Chegando na enseada, ele se deu conta que não se despediu de ninguém. Então ele olhou para o céu e pensou: "que eles me perdoem, pois eu não vou voltar".

Finalmente entrou na embarcação. Havia um homem posicionado em frente ao leme que parecia ser o capitão. O homem tinha cabelos brancos e longos, olhos azuis, barba por fazer e usava um enorme cordão com uma cruz dourada pendurada.

Ele saudou o capitão, que retribuiu gesticulando com a cabeça. Perguntou sobre os outros tripulantes e se supreendeu quando o capitão respondeu: "Não há outros. Esse é o seu barco, só vc pode navegar nele". Com estranheza, ele perguntou "mas porque só eu?".

- Você não é o homem dos pesadelos? Você não é aquele que se perdeu nas águas escuras e profundas da solidão? Não é você quem precisa de um recomeço?- Perguntou o capitão.
- Sim, mas...
- Então esse é o seu barco! Vou te levar de volta paras as águas cristalinas...Vou te levar para a verdade novamente. Vou te levar para um lugar onde você possa dormir tranquilo.
- E que lugar é esse?
- Não, essa não é a hora de perguntar isso. O lugar será revelado quando estivermos perto de encontrá-lo.

De fato, não havia um lugar específico para seguir, apenas não havia mais razões para ficar...Se alguém lhe perguntasse para onde queria ir, simplemente não haveria resposta e o capitão, por razões ocultas, já sabia disso. E isso já era o suficiente para zarpar.

Ele se posicionou ao lado do capitão, que lhe perguntou "Podemos ir?". E ele respondeu: "apenas me tire daqui".

O barco partiu.