Sunday, November 22, 2009

Paulocoelhando

Desculpa aí quem gosta, mas Paulo Coelho gera milhões apenas repassando pérolas de sabedoria dantes presentes na obra de Confúcio, na Bíblia, no Corão, you name it... É claro que elas nos tocam porque são verdadeiras, mas, como tudo nada vida, só são absorvidas, aprendidas e vividas naqueles momentos decisivos que acontecem na vida de qualquer um. Não sei se alguém já teve a experiência de mudar de vida completamente porque leu um livro do Paulo Coelho e autoajudas afins. Eu tô aprendendo na marra mesmo. A vida é bem eficiente em nos ensinar, e a gente nem precisa ler em livros coisas como...

1) Nada dura para sempre
Por mais que a gente pense que a situação, boa ou ruim, é permanente, não é. A fase difícil que nunca se resolve, pode ter uma resolução completamente surpreendente, previsível, boa, ruim ou até nem vamos perceber, mas a coisa sempre vai evoluir pra outra. É só parar pra escutar a trajetória de vida de outra pessoa, se é que a nossa própria não seja o suficiente para darmos o devido crédito. Acontecem um milhão de coisas, altos e baixos, reviravoltas... a gente só tem que tocar o barco e esperar, temos que...

2) Dar tempo ao tempo
Ansiedade e nervosismo são tremendos inimigos. Acabam nos sabotando porque a gente quer ver a coisa acontecer, e fazer acontecer. Acontece que é aquilo, nem sempre a gente tem o que quer, muitas vezes nossos desejos dependem de outras circunstâncias - e até de outras pessoas -, e aí a coisa complica. No fim, a gente faz o que pode. Contra a ansiedade e confusão, só nos resta...

3) Respirar
O conselho mais óbvio, porém tão eficiente. Respirar profundamente acalma os pensamentos, tira as nuvens que nos embaçam, colocam o corpo em ordem quando tudo gira. A gente toma cada uma que perde o rumo... não sei dizer com precisão os efeitos físicos de um bom exercício de respiração, só sei que funciona. Nos momentos mais angustiantes, podem salvar aquele fiapinho de sanidade que nos resta e fazer com que a gente...

4) Pare de pensar demais
Pare de pensar que tudo acontece só com você. Pare de pensar que o mundo tá conspirando contra. Pare de pensar que tudo revolve à sua volta e você é o umbigo do universo. Pare de fantasiar, coisas boas e coisas ruins, por que se as boas não acontecerem, só vão gerar frustração. E se as ruins acontecerem ou não, só de pensar nelas já derruba qualquer um. Pensar demais pode paralisar, impedir a ação, prender a pessoa no mundo das fantasias. É quase impossível desligar isso, mas é preciso...

5) Confiar
Life goes on. Keep walking.

Leu? Aprendeu? Claro que não. Como eu, você só vai aprender vivendo, navegando e levando as ondas no casco...

Saturday, November 21, 2009

O dia de amanhã

Finalmente, chegou o dia.

Eram 07:32 quando eu olhei o despertador. Não me levantei de primeira, pois raramente levanto. Fiquei na cama até 07:54.

Me dirigi ao banheiro como é de praxe. Sem olhar no espelho, abri a pia e enchi as mãos de água. Minhas mãos não estavam trêmulas como eu achava que estariam. Joguei a água no rosto e finalmente encarei o espelho.

Apareceu um homem com o rosto coberto de água. As olheiras eram nítidas e desde muito tempo estavam ali. O cabelo era desarrumado como de quem acabou de acordar, mas os olhos...Havia algo de errado com aqueles olhos castanhos. Mas o que era? Estavam mais apagados? Estavam menos corajosos? Bom, estavam menos interessantes agora. Tristes, eu diria.

Abri o box do banheiro. Escolhi água fria. Costumo pensar que tomar banho frio é um tipo de penitência ou castigo. Mas, além disso eu sabia que quando tomo um banho frio não consigo pensar em nada, apenas na dor momentânea da água fria batendo na minha pele quente de quem acabou de acordar. Demorei um pouco mais nesse banho. Ficar sem pensar em nada era melhor embriaguez...

Fechei o botão da calça, coloquei o cinto. Já sentado coloco o sapato do pé direito e depois o do pé esquerdo. Faltava amarrar os cadaços. Eu me demorei um pouco, fiquei pensando para onde eu iria, se o dia no escritório seria bom hoje. Como estaria meu nível de concentração, afinal? Entre pensamentos e lembranças, notei que a partir de hoje o meu caminhar seria solitário.

Lembrei da frase do Alberto Goldim que tinha lido no dia 15 de novembro. Ele falava sobre relacionamento e da importância de alinhar os interesses e não fazer jogos ou coisas do tipo. Até que ele termina a resenha com a seguinte frase:

Quando conseguem se encontrar em paz, ambos ganham um fantástico prêmio: o direito de lutar juntos para combater a solidão universal, habitando um sólido castelo, luxuosamente decorado com seus próprios projetos e ilusões.

Projetos...sonhos...ilusões. Tudo isso eu tinha e nada disso era meu.

Estava na hora de combater a solidão universal novamente. Sozinho dessa vez, não havia dúvida quanto a isso. Era assustador...

Escolhi a camisa branca. Fechava os botões e nada daquilo parecia fazer sentido. Coloquei a gravata cinza, pois era ela que melhor expressava o meu humor ou a ausência dele. Coloquei o paletó preto, por fim. "Deveria ser como uma armadura", pensei.

Peguei o ônibus. Sem ouvir música, dessa vez. Minha intuição dizia que música seria pior...

Desci no ponto, no ponto de sempre. Do outro lado da calçada vislumbrei a construção. Era o prédio do relógio gigante. Não era só um prédio, era um santuário também. O templo do Deus do Tempo, como eu sempre pensei.

Antes de entrar, fiz uma oração ao Deus do Tempo:

Mestre, você sabe quem é o discípulo que vos fala agora. Tu sabes que sempre segui com disciplina e coragem todos os seus ensinamentos. Passei por seus inúmeros desafios, suportei teus anocronismos e passei pelos jejuns que me impuseste com esperança em meu coração. Aprendi a ter paciência contigo e cresci debaixo do teu manto esperando sempre as surpresas que vinham com a tua chegada. Poucas vezes te pedi alguma coisa, mas hoje pedirei com toda humildade.
Me cura, Mestre. Use os poderes do Tempo para curar as feridas desse meu coração. Cuida de mim. Não deixe que as horas, os dias ou os meses me torturem. Faça com que tudo passe, com que meu espírito evolua. Me traz a cura, Mestre. Me exalte e me traga de volta para as batalhas com os poderes do Tempo.
Que assim seja.


Logo em seguida, o sinal de trânstio abriu e eu atravessei a calçada. Entrei no templo com as esperanças de que fui ouvido.

Era mais um dia de trabalho e as coisas ainda não faziam o menor sentido.