Thursday, January 1, 2009

Re: ensaio sobre a cegueira

Nos meus últimos escritos eu falei de algo que chamei de “amores possíveis”. Pra mim, amores possíveis são aqueles que, dentro das circunstâncias todas, podem se concretizar. É sobre concretude que eu quero falar hoje.
Sem pedir licença alguma, vou falar sobre a concretude de uma mulher. Mas, como sempre, a tratarei com carinho, respeito, dignidade e admiração – sempre admiração.

eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era...

(trecho de “Poema Sujo” – Ferreira Goulart)

Melhor que ver uma paisagem através de um quadro é estar lá. Acho que você concordaria, pois você já respirou outros ares muito mais vezes que eu e esteve em mais paisagens do que eu poderia contar.
De qualquer forma, algumas pessoas preferem o platonismo, o inalcançável. Algumas pessoas – acredito – preferem ver a paisagem no papel. Desta forma, ela sempre estará eternamente bela, será sempre uma ótima lembrança que se manterá inalterável independentemente da passagem do tempo.
Mas não é o que regularmente acontece...
A vontade de ser mais que uma bela paisagem é grande. E para que isso aconteça é necessário concretude. O que é vapor, precisa virar sólido. Um teorema precisa de demonstração!
Minha opinião: qualquer fantasma sucumbiria à vivacidade desses olhos azuis...São irresistíveis se forem usados com a devida munição.
Lembro-lhe que é necessário interagir com o ambiente. Tocá-lo, respirá-lo, bebê-lo, consumi-lo e até feri-lo, pois nada nesse mundo passa sem levar um arranhão sequer.
Mas tudo isso, eu sei, você já tem total ciência. Ainda assim, eu preferi te refrescar a memória.

Eu acredito em tudo,
Mas eu quero você agora.
Eu te amo pelas tuas faltas,
Pelo teu corpo marcado,
Pelas tuas cicatrizes,
Pelas tuas loucuras todas,
Minha vida.
Eu amo as tuas mãos,
Mesmo que por causa delas,
Eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo o teu jogo triste.
As tuas roupas sujas,
É aqui em casa que eu lavo.
Eu amo a tua alegria,
Mesmo fora de si,
Eu te amo pela tua essência,
Até pelo que você podia ter sido,
Se a maré das circunstâncias,
Não tivesse te banhado nas águas do equívoco.

(trecho de “Quando o amor vacila” – autor desconhecido)

Conviver com alguém é um grande teste para o espírito. Somente na rotina é que aparecem os problemas, os defeitos, as decepções. Somente na rotina é que se estabelecem as maiores provas de amor.
Você sempre fala sobre portas. No seu caso, são portas que se fecham. Você não sabe como acontece, mas continua acontecendo. Você tenta evitar e eu acredito. Mas o resultado continua a se repetir...
Talvez seja a hora de mudar de estratégia. Contar com a persistência alheia não tem adiantado muito. Mas eu não te prescreveria nenhuma receita! Quem sou eu para fazer isso? Eu apenas cumpro a minha função de acreditar fielmente em você.
Apesar de entendê-la como alguém cuja arte se sobrepõe aos interesses mais mundanos, basta uma caminhada de 500 metros para estar em seu abraço. Você não é uma miragem pra mim, não é uma ilusão pra mim. Mas talvez, só talvez, eu tenho a visão aprimorada. Quem sabe minha íris é muito mais receptiva?! Ou meus sentidos sejam mais aguçados?
É por isso que ofereço minha parceria, minha energia: consigo enxergar algo além daquilo que meus olhos me permitem ver.

Eu quero ser possuída por você,
pelo seu corpo, pela sua proteção, pelo seu sangue.
Me ama.
Eu quero que você me ame,
E fique eternamente me amando dentro de mim,
Com a sua carne e o seu amor.
Eternamente, infinitamente dentro de mim,
Me envolvendo, me decifrando,
Me consumindo, me revelando

(trecho de “Eu queria ser possuída por você” – José Vicente)

Acredito que as necessidades do espírito se refletem na carne. Portanto, cuidar da carne também é preservar o espírito.
O beijo demorado dado na penumbra... O abraço aconchegante em forma de fortaleza... O prazer do sexo com quem se ama demais...
Portas que se exibem no corpo e que dão acesso ao espírito.
Se há algo de diferente em você eu diria que reside no fato de que é mais difícil enxergar as portas em você. Duas etapas são necessárias: primeiro enxergá-las e depois abri-las – ou passar quando já estiverem abertas!
Mas se poucos têm visão aguçada somente você poderia lhes ajudar a ver. Livre-os da cegueira, livre-os da ignorância. Faça-os enxergar o que estão perdendo. Pois, é justamente nesse momento que eles irão persistir.
Ligue o infravermelho.

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