Thursday, January 1, 2009

Definição

Eu li, e reli, e reli. Fiz um exercício de interpretação. Fechei os olhos da modéstia, o charminho de quem não recebe muitos textos sobre si. E enxeguei. É, espertinho, você conseguiu. Sou eu.

Por muito tempo eu tenho tentado ligar os pontos, já tinha percebido essa minha caacterística espectral, que explica mas não justifica um monte de passagens da minha vida. Das mais antigas às mais novas. Acontece desde sempre. Impossível sou eu, e nem sei o porquê, o como, o que eu faço.

"(...) aquilo que se tem por uma bela paisagem: admiração, carinho, fascinação, vontade de preservar."


Eu tenho aprimorado a minha técnica de perceber alguns sinais. Um dia até fiz uma lista deles, de momentos esparsos que vivi em minha vida. São todos apenas migalhas, o máximo que eu conquistei. Acredito que tenham sido verdadeiras, que houve desejo, vontade. Mas isto passa. Desenvolvi a regra dos "20 segundos": todos um dia tiveram certeza que me queriam por 20 segundos. Eu consegui perceber, através de um olhar, uma palavra, um toque, um sorriso, ou até mesmo uma declaração explícita... Decerto foi um sentimento sincero mas que se esvai logo. Passou pela cabeça. Passou e foi. No dia seguinte, nenhum deles acorda pensando em mim. A vida segue e eles vão atrás de seus alguéns mais facéis, mais acessíveis, mais reais, menos etéreos.

Se eu, sem saber, fecho a porta, ninguém persiste a bater. O sentimento nunca vê a luz do dia, nunca desce à terra, não germina. Preferem deixar no fundo da alma, o lugar dos espíritos.

Por isso passei pela vida não sabendo se alguém me queria. Sem provas cabais que me fizessem acostumar com a idéia de ser desejada. "Era você. Eu gostava de você. Te admirava tanto. Tão inteligente, tão segura, independente..." Nada disso eu soube, nada disso eu ouvi quando precisava. Só descobri, anos depois, que muitos com quem convivi, até alguns dos que me tratavam tão mal, na verdade, gostavam de mim... Gostavam de mim? O quanto, buscando a outras? Sempre resisti a acreditar que era verdade. Além do mais, do que me adianta isso agora?

Por que nada disso viu a luz do dia?

"(...) pouco dela é matéria - enquanto que quase tudo é espectral!"

Uma sombra... tenho fama de muitas coisas, sem que ninguém, ou eu mesma, saiba direito quem eu sou e o que é verdade. Eu não sei como eu colaboro para que isso aconteça, só sei que preciso encontrar pessoas que me puxem pra terra firme, ou vou desaparecer de vez. Ou seria esse o meu devido destino? Inspirar admiração, mas nunca participação. Admiração, mas nunca compreensão. Carinho, mas nunca um toque que me alcance. Desejo, mas nunca uma atitude. Uma ótima idéia na teoria, inviável na prática.

Eu não sei onde estava o seu sentimento, já que nunca olhava pra mim. No início eu desviava os olhos de medo e confusão, mas depois fui atrás dessa expressão maior, que eu esperava muito receber. Mas não achei. Pouco a pouco, continuei buscando... onde estava? Nunca consegui descobrir. Da minha parte, confesso que não gostava de ver as fotografias. Me repeliam, não entendia muito bem. Eu as escondia, afastava-as de mim. Eu gostava era de te imaginar. E não mudava nada de como era, somente como agia. Mudava um pouco do roteiro a meu favor... Ainda guardava intacta na memória a visão do primeiro beijo, aproximando, aproximando. O que aconteceu depois virou um emaranhado confuso. A única outra visão lúcida que eu consegui guardar foi do dia que em que percebi que não havia nada em seu olhar, ou melhor, foi quando percebi que ele nem ao menos me buscava... Eu provavelmente já havia desaparecido.

Sinto que preciso ser vista e tocada. Mas algo me protege. O que é?

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