Sunday, January 18, 2009

Eu e o Tempo

Desde pequeno eu tinha a percepção de que a passagem do tempo seria algo importante pra mim.Em parte porque eu tinha, de certa maneira, uma percepção diferente das crianças da minha idade. E em decorrência dessa percepção ouvi muita gente dizer que "você é bem maduro para a sua idade".

Quando era pequeno, sonhava em ser adulto. Eu não sabia exatamente o que queria fazer, apenas me via de terno, como alguém que é importante. Mesmo agora, já adulto, sonho em como será a minha vida daqui a alguns anos.

Mas, como eu ia dizendo, minha relação com o tempo não partiu somente dessa minha percepção diferente. Minha mãe, principalmente, me criou de forma um tanto quanto reclusa em alguns aspectos. Não reclamo de você, mãe: tua criação me deu tudo o que tenho e o que tenho não é pouca coisa. Porém, muitas vezes quando eu queria fazer alguma atividade que outras crianças como eu faziam era minha mãe quem dizia "você não tem idade", "só daqui há algum tempo"...

Imagino como isso deveria ter sido irônico para meu pai que, quando criança, passava mais tempo na rua do que em casa. Já para o filho, ele resolveu impor limites que nunca teve e como marinheiro de primeira viagem que era, errou e não foi só uma vez.

Quando eu vivia dessa forma, tudo que eu queria - lembro-me bem - era que o tempo passasse rápido. Nessa época, o tempo só tinha um significado: liberdade.

O tempo passou e eu terminei meus estudos básicos ingressando na faculdade de Direito em Niterói. Pra quem precisava de liberdade, estudar em outra cidade era o mesmo que soltar as amarras.

A faculdade de Direito trouxe o terno preto. Essa vestimenta, eu aprendi depois, serve não somente para identificar alguns operadores do Direito, mas também lhe servem de blindagem, de armadura. Espada e escudo para o guerreiro, terno e gravata para o advogado. (mas isso é para outro post)

Passei por períodos turbulentos. Fiz estágios em repartições públicas, num escritório de pequeno porte, aprendi muitas coisas e me aprimorei em outras. O tempo me deu saber e engrossou minha casca como um mestre prepara o pupilo para algo maior.

No meio disso tudo eu aprendi coisas sobre amor, amizade, lealdade, companheirismo. O tempo levou entes queridos e me deixou espaços vazios no coração que até hoje não foram preenchidos. “Te apresento a morte”, disse o Tempo e eu respondi dizendo “obrigado por ter adiado ao máximo esse momento”.

Depois de ter me ensinado as mais diversas lições, o Tempo achou que eu, finalmente, estava preparado. Quando chegou esse momento ele disse “preciso te mostrar um lugar. Não direi onde fica, nem quando. Tudo isso, meu caro, está a cargo do Destino”.
A primeira vez que vi o prédio em que trabalho eu estava do outro lado da rua, quando desci do ônibus. O edifício é o mais badalado da Avenida Rio Branco e em sua fachada HÁ UM IMENSO RELÓGIO.

Me senti como Roland finalmente de frente para a Torre Negra. Era mais do que algo convidativo, era como se aquela construção dissesse "bem-vindo ao lar".
Lá não era a casa do Tempo, pois esse não pára para descansar. Era como se fosse um templo em homenagem a Cronos, um lugar onde o Tempo é contemplado. Desde a primeira vez que pisei no 9º andar eu sabia que lá tinha algo pra mim.

Estavam lá meus maiores desafios, as mais incríveis aventuras e o conhecimento e a liberdade que eu tanto busquei.

O Tempo, ao que parece gostou de mim, resolveu que continuaria me guiando por esse mundo a fora. E, usando de sua típica ironia, meu deu um presente inusitado: “trabalharás com prazos para todo o sempre!”.

1 comment:

  1. MARA!! blog MARA!! Não tive como comentar antes, snif! ADORO suas metáforas pitorescas e as reflexões da Weba!

    Torce pra eu me animar e voltar tb!

    Beyjas!

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